Edição 09 - Junho/2021 | Entrevista

Rodrigo Ribeiro Barreto analisa o lugar LGBTQIA+ no videoclipe brasileiro

Foto: Leandro Jorge da Silva.

A oficina online intitulada “O lugar LGBTQIA+ no videoclipe brasileiro contemporâneo”, realizada em abril na programação da Biblioteca Parque Villa-Lobos com o professor Rodrigo Ribeiro Barreto, teve início com análise e explanações sobre a representação genérico-sexual nessas produções audiovisuais no mundo. As aulas apresentaram um recorte histórico da produção brasileira de videoclipes, na segunda década do século XXI, quando se intensificou a atuação de artistas assumidamente pertencentes à comunidade LGBTQIA+. Na abertura dos trabalhos, Barreto detalhou questões como identidade e expressão de gênero, orientação sexual e comportamento, além de exemplos de vídeos disponíveis no YouTube.

Barreto começou por desdobrar a sigla LGBTQIA+:

L (lésbicas): orientação sexual - Homossexualidade;

G (gays): orientação sexual - Homossexualidade;

B (bissexuais): orientação sexual - Bissexualidade;

T (transgêneros): identidade de gênero - Transgeneridade;

Q (queers): posicionamento pós-identitário com reivindicação / declinação de um termo opressor;

I (interesexuais): configuração cromossômica, função hormonal e/ou aspecto anatômico;

A (assexuais): orientação sexual - Assexualidade.

+: abertura para novas orientações sexuais, identidades de gênero, corporalidades e comportamentos que venham a emergir culturalmente e se tornar inteligíveis.

O lugar, indicado no título da oficina, também mereceu explicação, pois Barreto acredita que esse espaço LGBTQIA+ refere-se não só à oportunidade e visibilidade de direito para a comunidade, como também à disposição de agentes da cultura pop e da representação cultural dentro desse setor. Sobre representatividade, o professor tratou da polêmica questão de atores e atrizes que não são obrigatoriamente LGBTQIA+, mas interpretam personagens homossexuais e transexuais, por exemplo. Para ele, é necessário não perder de vista igualmente a questão econômica, de oportunidade de trabalho para esses protagonistas das produções.

Barreto traçou um histórico do surgimento dos videoclipes que, desde a década de 1980, são campo fértil tanto para a indústria cultural (dos gêneros/ritmos de massa) quanto para as correntes culturais consideradas alternativas. O domínio da força da performance encontrou seu ambiente ideal nessas produções, como ressaltou. E da televisão para a Internet, com o YouTube, o crescimento não passou sem que a indústria reconhecesse sua importância. Entre as referências de estudiosos do tema, especificamente ou dos assuntos relacionados com a oficina, Barreto citou “Gender Politicts and MTV”, de Lisa A. Lewis (sobre as obras de Pat Benatar, Cindy Lauper, Tina Turner e Madona), e de Chris Straayer sobre a “mitologia do homem gay”. As tendências progressistas e transgressoras dos videoclipes também foram alvo das explanações que destacaram as trajetórias de David Bowie e Elton John, personalidades com identidades presumidas ou assumidas. E exibiu as produções “Diaba” e “Montero (Call me by my Name)“, além de citar Linn da Quebrada e Holland, primeiro astro do K-Pop assumidamente gay.

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