Ateliê Literário | Edição 40 - Janeiro/2024

O lado poético da crônica

Ilustração: Fernando Siniscalchi

Sônia Regina Silva

           Sônia Regina Silvaparticipante da oficina “O que pesa na prosa", ministrada pelo escritor Tiago Germano, na Biblioteca de São Paulo, em novembro de 2023, marca sua presença com um texto reflexivo. Confira! 


Era quinta-feira, noite fria iluminada por uma imensa lua. A frieza do silêncio barulhento trazia uma estranha alegria, dando as boas-vindas à minha insônia soturna. Sozinha em meu recanto doméstico, eu estava acompanhada apenas por uma caneta e um papel pautado, que pareciam sorrir para mim nesta doce melancolia de minha escrita.

            O cheiro fresco e leve da noite permeava o ar, enquanto um frio denso, abaixo de 40 graus, congelava minha alma solitária. De repente, um calafrio me dominou. Um forte aroma metálico de sangue fresco invadiu minhas narinas, interrompendo a leveza da noite. Algo indefinível tocou minhas costas, paralisando-me neste ambiente acolhedor e inóspito de reflexões noturnas. Seriam os ventos me visitando?

            A noite, cruel parceira de todas as minhas insônias, permitia-me mergulhar nas profundezas da existência humana. A escrita noturna me conectava com a realidade atual, um mundo sombrio e solitário que congelava minha alma a cada segundo. No entanto, também me aquecia, permitindo a desterritorialização do meu ser rumo ao desconhecido.

            Oh, noite bela, você me propiciou novas realidades existenciais. Somente você, NOITE, através da minha insônia soturna, permitiu a construção de novos territórios diante deste mundo caótico e solitário.