Edição 15 - Dezembro/2021 | Editorial
E no Dia do Palhaço tem poesia
O Dia Universal do Palhaço é celebrado em 10 de dezembro. A palavra palhaço, com suas variantes, é tão presente quanto controversa em nossa cultura. Se essa figura, com sapatos maiores que os pés, é sinônimo de festa, também pode servir de ofensa. Por isso mesmo, o palhaço caminha feito a encarnação da poesia, essa arte de juntar opostos, de fazer renascer e nascer termos, de fazer tropeçar nos sentidos.
Tal o palhaço, o poeta (símbolo de todo escritor) conquistou espaço especial para falar o que ninguém consegue. Sim, conquistar, que nada é dado nessa vida. Eles é que fazem piada com o cabelo da rainha, criticam a inépcia do presidente, elogiam o dente quebrado da criança. Em situação normal, recebem riso e atenção em troca. Em regimes de exceção, ganham sopapos, quando não o cárcere.
O portal Literatura Brasileira no XXI destaca essa figura, portadora de uma máscara que mal esconde seu nariz. Neste tempo pandêmico, com todos virando mascarados, ao menos os cautos, também aprendemos algo de palhacaria às avessas. Pois no auge do morticínio por covid-19, xingava-se de “palhaço!” alguém com máscara no pescoço. Descobriu-se, mesmo, diversas “palhaçadas” que atrasaram a compra de vacinas.
Tensionando tais sentidos de palhaçada, poesia ou máscaras é que Suelen Santana (palhaça, poeta e estudiosa) propôs a oficina multi-artes “Foto-resenha: uma performance a partir da poética de Manoel de Barros”. Dos versos do poeta, ela fabricou máscaras concretas com os participantes. E foi além, revelou que poesia pode ser desfile de máscaras. Ler um poema, assim, é uma delicada prova de máscara, no mínimo entre poeta e leitor/ouvinte.