Edição 10 - Julho/2021 | Editorial
A hora e vez da ciência e da literatura – juntas e combinadas
Se há duas coisas que não só não andam juntas, como quase que se repelem, é o par literatura e ciência. Na escola, é bem fácil encontrar aqueles e aquelas que ou preferem as aulas de ciência (matemática, física, biologia) e quem é das humanas (literatura, história, geografia etc.). Dizer que é um Fla-Flu sem sentido – e é – não altera o fato de que a divisão existe e determina muitas das escolhas feitas num momento crucial das nossas vidas.
Para ser um tanto do contra, como manda o espírito instigante das oficinas do projeto Literatura Brasileira no XXI, a Biblioteca de São Paulo apostou no inusitado. Que combinação sai se, para celebrar o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, agora em 8 de julho, colocarmos ciência e literatura lado a lado? De modo a dar mais uma volta nesse parafuso, fugiu-se ao lugar-comum (que nem por isso é desinteressante, reste claro) de não apostar todas as fichas na ficção científica, o filão que tende a dar forma literária à ciência.
Mas o inusitado da coisa é só uma das pontas dessa junção a que se propôs a Biblioteca de São Paulo. A outra é a urgência do tema. Só mesmo fechando os olhos com muita força para não perceber o véu obscurantista que se estendeu sobre o país. Um obscurantismo insidioso, perverso, que ataca em várias frentes, sem dúvida, mas que tem na dimensão humanista da literatura e na objetividade do pensamento científico dois dos seus principais alvos. Assim, uma literatura que põe em diálogo duas áreas do conhecimento indevidamente distanciadas também faz ver que a ciência tem uma forte grandeza humana e a literatura pode ser uma forma objetiva de conhecer o mundo.